Instituto Pensar - Miranda diz que corrupção na Saúde pode ser ?muito maior?

Miranda diz que corrupção na Saúde pode ser ?muito maior?

por: Mariane Del Rei


Foto: Pedro França/Agência Senado

Em entrevista à Folha de S.Paulo desta segunda-feira (28), o deputado Luis Miranda (DEM-DF) afirmou que o esquema de corrupção do Ministério da Saúde pode ser "muito maior? do que o caso da vacina Covaxin, investigado pela CPI da Pandemia do Senado. Miranda disse que o irmão, Luis Ricardo Miranda, chefe do departamento de importação do ministério, vê indícios de operação "100% fraudulenta? para a compra de testes de covid.

"Se existir algo realmente ilegal, não é só nessa vacina [Covaxin], é na pasta toda. O presidente [Jair] Bolsonaro demonstra claramente que não tem controle sobre essa pasta?.
Luis Miranda

Os dois prestaram depoimento à CPI na sexta-feira (25). O deputado afirmou que o irmão pode dar mais informações em uma eventual sessão secreta da comissão.

Na entrevista, o deputado Luis Miranda disse que o diretor de logística do ministério, Roberto Ferreira Dias, é quem dá as cartas. "Nada ali acontece se o Roberto não quiser?. Dias foi indicado ao cargo pelo ex-deputado Abelardo Lupion e por Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo Bolsonaro na Câmara.

No depoimento à CPI, Miranda disse que o presidente citou o nome de Barros quando foi informado pelo deputado e por seu irmão, no dia 20 de março, sobre irregularidades envolvendo o contrato de R$ 1,6 bilhão assinado pelo ministério com a Precisa Medicamentos para a compra de 20 milhões de doses da Covaxin.

O deputado deu mais detalhes da reunião que teve com Bolsonaro naquele dia no Palácio da Alvorada. Segundo ele, o nome de Barros foi mencionado pelo presidente logo nos primeiros dez minutos de conversa.

"Esse pessoal, meu irmão, tá foda. Não consigo resolver esse negócio. Mais uma desse cara, não aguento mais?, teria dito Bolsonaro, segundo o deputado.

Freixo comenta entrevista de Miranda

O líder da Minoria na Câmara, Marcelo Freixo (PSB-RJ), comentou a entrevista do deputado Miranda à Folha. O socialista indagou o por quê de Bolsonaro não tomar uma atitude mediante ao esquema de corrupção formado no Ministério da Saúde.

Centrão duvida de gravação

Parte expressiva do Centrão, sobretudo o PP, discutiu internamente neste fim de semana fazer uma representação contra o deputado Luís Miranda no conselho de ética da Câmara pela grave acusação que envolve Ricardo Barros, deputado e líder do governo. Em condições normais, seria líquido e certo pedir a abertura de um processo de cassação de Miranda.

O que travou qualquer movimento é a possibilidade de Miranda ou o seu irmão terem gravado Bolsonaro na conversa que os três tiveram no Palácio da Alvorada no dia 20 de março. Nela, segundo Miranda, Bolsonaro teria dito que a história da compra da vacina indiana era um "rolo? de Barros.

Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, Miranda afirmou que teria como provar o que disse na CPI:

"A gente tem como mostrar a verdade e de um jeito que vai ficar muito ruim para o presidente?.
Luis Miranda

Segundo o jornal O Globo, de acordo com um integrante do Centrão, "ninguém sabe se é blefe ou não?, optou-se por esperar. O Centrão não está disposto, portanto, a pagar para ver. Aliás, nem o Centrão e nem Bolsonaro que até agora não deu um pio sobre as acusações.

?Não há dados concretos? em acusações na CPI, diz Barros

O líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), divulgou uma nota no domingo (27) para rebater suspeitas apresentadas na CPI da Pandemia no Senado sobre a compra da vacina indiana Covaxin. Apesar de Barros ter entrado no centro da investigação da CPI, integrantes do Palácio do Planalto afirmam que, por enquanto, ele deve permanecer no cargo.

"Fica evidente que não há dados concretos ou mesmo acusações objetivas, inclusive pelas entrevistas dadas no fim de semana pelos próprios irmãos Miranda. Assim, reafirmo minha disposição de prestar os esclarecimentos à CPI da Pandemia e demonstrar que não há qualquer envolvimento meu no contrato de aquisição da Covaxin?.
Ricardo Barros

Barros se defende

Ricardo Barros saiu em defesa própria no Twitter. O progressista disse que não participou de nenhuma negociação da compra da Coxavin.

Barros reclamava de não ser ouvido sobre CPI

Antes de se tornar um dos principais personagens da crise envolvendo a vacina indiana Covaxin, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, vinha se queixando de não participar das reuniões no Palácio do Planalto em que são definidas as estratégias para CPI da Pandemia.

Intramuros, Barros costumava argumentar que, embora seja deputado e a CPI corra no Senado, sua experiência como ministro Saúde era ignorada pelo governo e que ele poderia ser mais útil ao governo que os ministros Onyx Lorenzoni (Secretaria-Geral da Presidência) e Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil), por exemplo. Ambos compõem o núcleo duro responsável por definir como a base aliada deve agir na comissão.

Barros responde a uma ação de improbidade administrativa. O Ministério Público Federal (MPF) o acusa de ter beneficiado a empresa Global Gestão quando foi ministro da Saúde, entre 2016 e 2018. A Global é sócia da Precisa, empresa alvo da CPI da Pandemia em razão das negociações para vender a vacina Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech.

Outra vacina irregular

No dia 16 de junho, a CNN Brasil divulgou nota do Ministério da Saúde em que se comemorava a intenção de compra de 60 milhões de doses da vacina CanSino. A reportagem informava que teria tido acesso ao documento assinado no dia 4 de junho.

O governo federal, ainda segundo a reportagem, iria pagar 17 dólares por dose. Ou seja, R$ 5,2 bilhões por 60 milhões de doses. O valor mais alto de todas as vacinas compradas pelo governo incluindo a Covaxin, de 15 dólares. A Covaxin é aplicada em duas doses e a CanSino em dose única.

A CPI da Pandemia vai investigar uma carta de intenção assinada pelo Ministério da Saúde para aquisição de 60 milhões de doses da Convidencia ? vacina produzida pelo laboratório chinês CanSino. Imunizante está sendo negociado com o apoio de um grupo empresários, entre eles Luciano Hang e Carlos Wizard, e intermediada por um laboratório brasileiro. Nessa caso, o sócio é filho de amigo pessoal de Ricardo Barros.

Família Bolsonaro infla negócios da Precisa

A Precisa Medicamentos, empresa responsável por intermediar a compra da vacina Covaxin pelo ministério da Saúde, teve um salto em seus negócios no governo Bolsonaro. Antes dele, a firma havia assinado apenas um contrato de R$ 27,4 milhões para fornecer preservativos femininos ao Ministério da Saúde. Desde a posse de Bolsonaro, a Precisa fechou ou intermediou acordos que somam R$ 1,67 bilhão. Um crescimento aproximado de 6.000%.

Além disso, o empresário Francisco Maximiano, dono da Precisa, também ganhou acesso a ministérios, ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e à embaixada do Brasil na Índia. 

Leia tambémOposição quer investigar lobby de Flávio Bolsonaro para dono da Precisa

O senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) foi o responsável por abrir as portas do BNDES ao empresário. Após a revista Veja revelar que o Zero Um intermediou uma reunião de Max, como é conhecido em Brasília, com o presidente do banco público, Gustavo Montezano, o senador admitiu ter "amigos em comum? com o dono da Precisa.

Na época da venda dos preservativos femininos, o presidente era Michel Temer e o ministro da Saúde o atual líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros. Nos anos seguintes, com Bolsonaro e Barros, a empresa ampliou o negócio e assinou novos contratos, que somam R$ 1,67 bilhão.

Com informações do jornal Folha de S. Paulo, O Globo, Revista Fórum e Congresso em Foco




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